domingo, 17 de janeiro de 2010

E se...


imagem in http://www.diariodepernambuco.com.br/mundo/nota.asp?materia=20100113133503

No final de 2009, a terra tremeu em Portugal. Para mim, que nunca tinha sentido um tremor de terra (das outras vezes ou estava a dormir ou em movimento e não dei por nada), foi uma sensação muito estranha e arrepiante. Senti o chão tremer debaixo da cadeira, vi o candeeiro balançar e levantei-me num ápice. Foram apenas alguns segundos, mas lembro-me de pensar "E agora? Será que foi só isto ou vem aí mais??". Tive uma tremenda sensação de impotência, mas felizmente ficou-se por ali. Depois pensei que tinha sonhado e só quando confirmei com outras pessoas, percebi que tinha sido real. Mas passou... Na semana seguinte, um temporal abateu-se cá pelo Oeste e de novo senti medo, ao ouvir aquele vento indomável bater nos estores da janela e objectos a rolar na rua. Não quis ver. Acordei com o susto, fui à casa de banho, deitei-me outra vez, encolhi-me e pensei "Seja o que Deus quiser!". Tapei os ouvidos e consegui dormir. Apesar de, no dia seguinte, haver muitos estragos, não houve baixas humanas.
Neste início de 2010, um dos países mais pobres do mundo não teve tanta sorte. Cerca das 17 horas (hora local), de dia 12 de Janeiro de 2010, a terra tremeu violentamente e um país ficou desfeito. Ruínas, fome, sede, miséria, pessoas ainda vivas soterradas, que os que se salvaram tentam tantas vezes salvar removendo destroços com as próprias mãos, ameaça de epidemias - é este o cenário hoje, uns dias depois do sismo. As réplicas continuam, as pessoas em desespero vagueiam pelas ruas... e rezam! Cantam, pedindo auxílio divino! O auxílio internacional vai chegando, mas ainda não é efectivo, porque quem melhor podia ajudar, por conhecer o país (como dizia o jornalista Vítor Gonçalves da RTP), são os desaparecidos (mortos) nos destroços, o chefe da missão da ONU no território e o seu adjunto.
Esta noite vi uma reportagem da TV brasileira em que populares e militares brasileiros das Nações Unidas conseguiram resgatar, com as próprias mãos, ainda com vida, uma enfermeira grávida, nas ruínas de um centro materno-infantil. Estava enterrada até ao pescoço e conseguiu sobreviver. Vi ainda numa reportagem da CNN uma menina, que se julgava ter ficado orfã, ser encontrada pelos pais, que se julgavam mortos, numa tenda de ajuda humanitária. São autênticos milagres! Mas senti também uma imensa frustração ao ver uma Escola Profissional em ruínas, onde ficaram cerca de 300 alunos e os seus professores (uma escola como a minha! Com o mesmo número de alunos!!!), sabendo que, se houve sobreviventes, morreram ou estão a morrer de desespero entre os destroços!...
O horror domina aquele pequeno país das Caraíbas. O sofrimento está lá e não se vai embora. Não podem fazer o que eu fiz e dormir até ao dia seguinte, porque não tiveram tanta sorte. E se nós tivessemos tido o azar que eles tiveram??? E se... Afinal nunca país nenhum está preparado para estas tragédias e ninguém pode nada contra a Natureza, embora grande parte do tempo pense que sim...