sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Blogagem colectiva - Professores do Brasil... de Portugal, neste caso


Ser professor, em Portugal, no Brasil, na Austrália, na Espanha, terá decerto vantagens e desvantagens, conforme as especificidades de cada país, mas tem em comum o facto de exigir disponibilidade intelectual e emocional para nos envolvermos nesta profissão.

Eu sou professora por vocação. Foi a profissão que escolhi em consciência e que os próprios testes vocacionais indicavam, portanto faço aquilo para que nasci e tenho muito orgulho nisso. No entanto, de fácil esta profissão tem muito pouco.

Imagine-se o que é todos os dias ter que lidar, neste caso, com adolescentes, com a inconstância, rebeldia e energia próprias da idade. Não podermos dar-nos ao luxo de estarmos muito mal dispostos ou não nos apetecer trabalhar, porque temos na frente vinte e tal, trinta e tal adolescentes que, mesmo bem intencionados, não resistem a discutir connosco o "poder" na sala de aula. Outras vezes temos que ter a capacidade emocional de aguentar as tragédias das vidas dos nossos alunos (e cada vez há mais!). Somos professores, pais, mães, padrastos, madrastas, irmãos, irmãs, psicólogos, assistentes sociais e até enfermeiros, conforme as circunstâncias e, tantas vezes, somos tudo isso num só dia. Além disso, somos homens e mulheres com as suas próprias vidas, grande parte com filhos, com família, com problemas, como todos os outros mortais. E mais, o nosso trabalho não fica na escola, ao fim de um dia de trabalho, e não falo só de testes, fichas, textos e trabalhos que nos acompanham em pastas carregadas, falo sobretudo da carga emocional que connosco trazemos, que, não raras vezes, não nos deixa dormir.

A minha profissão, a profissão de professor, tem toda esta carga, mas é também compensadora, quando a exercemos com gosto e vemos os "nossos meninos" crescerem, voarem, seguirem a sua vida e voltarem para nos dizerem que venceram!

Entre tantos e tantos exemplos estou a lembrar-me da Cláudia, da minha Direcção de Turma de há alguns anos, de um Curso de Hotelaria, que nós, os professores, tantas vezes duvidámos que concluísse o Curso devido às grandes dificuldades de aprendizagem que tinha e limitações a nível cultural - o mundo dela circunscrevia-se à região onde se situava a aldeia e depois a Escola. Ainda me lembro dos seus olhos brilhantes a mirar o Rio Tejo quando fomos numa visita a Lisboa, ela que vivia numa aldeia a cerca de 70 km de Lisboa só tinha ido à capital duas vezes com a escola, em anos anteriores, e nunca tinha visto o Tejo. Pois a Cláudia lutou, trabalhou muito, mas muito mesmo, a pouco e pouco foi conseguindo e, com imenso esforço, terminou o Curso. Foi uma vitória! Começou a trabalhar num café, a fazer muitas horas e ganhar muito pouco, mas sempre com um esplendoroso sorriso. O tempo passou, os anos, alguns (talvez uns 4 ou 5) e eis que me liga uma amiga e me diz que foi ao café onde a Cláudia trabalhava e lá estava ela com um imenso sorriso - é actualmente dona do café e tem feito já vários cursos de formação (Higiene e Segurança no Trabalho, Inglês e Comunicação). Fiquei FELIZ, orgulhosa! A minha menina venceu! Um destes dias vou ao seu café dar-lhe os parabéns e um grande beijo!

Não resisto a falar ainda de mais um dos "meus meninos" - o João. Quando o João entrou na "minha" Escola, era uma rapaz simpático, terno e com muitas dificuldades de expressão escrita. Foi sempre simpático e terno, amigo do seu amigo, disponível, sempre pronto a ajudar os outros (ou não fosse ele escuteiro), excelente profissional nos Estágios e com um coração de manteiga. Com dificuldades mais específicas, o João foi progredindo e chegou ao fim do seu Curso. Depois, com todo o mérito e muito esforço, entrou na Faculdade. Foi para longe de casa e da nossa escola e às vezes, na internet, lá o encontro, ao princípio, com muitas saudades do colinho e do mimo daquela família que é a nossa escola. Vem-nos visitar frequentemente e é sempre recebido com sorrisos sinceros como o dele. Neste momento, está em Espanha ao abrigo do programa Erasmus. Mais uma vez está-lhe a custar, mas, tenho a certeza, mais uma vez sairá vencedor. Tem ainda muito que crescer e vencer, mas eu tenho já muito orgulho nele e acredito que chegará onde quiser.

Estes são apenas dois exemplos por que considero que vale a pena ser professor. Apesar do desrespeito dos governantes, da incompreensão de alguns pais, do quase desprezo da sociedade, são os meus alunos que me fazem continuar a acreditar no que faço.

Sou professora por vocação e de coração!




PS - peço desculpa ao promotor desta blogagem Valdeir Almeida do blog "Ponderantes", pelo atraso na "postagem", mas isto de ser professor dá mesmo muito trabalhinho :)

3 comentários:

Valdeir Almeida disse...

Maggie,

O link deste seu post já está lá no meu blog, na página referente a blogagem coletiva.

Seu post coaduna com o meu. Seja em que lugar for, o professor faz as vezes do guerreiro para conseguir dar aulas a classes lotadas de alunos cheios de energia e que, além do mais, querem competir conosco.

O que vale a pena são as "Cláudias" que nós formamos. São as pessoas que alguns tempo depois se reencontram conosco e revelam que nós coloboramos para os degraus que elas galgaram.

Muito obrigado por participar desta coletiva. Espero que mantenhamos contato.

Abraços.

Teresa Diniz disse...

Olá Maggie
Finalmente, consigo vir responder aos amigos que comentaram o meu blogue.
O seu post comoveu-me: lembrei-me de todas as Cláudias e Joões que me passaram pelas mãos e pelos quais, na verdade, continua a valer a pena ser professor!
Mas, ao fim de tantos anos, surge um cansaço muito grande. Queremos crescer também em respeito e dignidade. E é esse aspecto que se está a revelar difícil.
Continue assim, Maggie, sonhadora e crente no que faz. É de professores assim que precisamos.
Bjs

Helena Teixeira disse...

É verdade ser professor hoje em dia não é pêra doce e tem de se agarrar a profissão com unhas e dentes para fazer o melhor trabalho possível,mesmo com as entraves governamentais todas e afins...tenho muitas amigas professora que trabalham na área e outras que ficaram de fora e tiveram de ir à luta,que me contam histórias incríveis,no bom e no menos bom sentido,mas todas dizem que vale sempre a pena :)
Por isso,lhe desejo Felicidades e Boa continuação na sua carreira.

Ah,deixo aqui um convite:Blogagem de Novembro da Aldeia! O tema é "O Meu Magusto".Participe,basta enviar 1 texto com máximo 25 linhas e 1 foto para aminhaldeia@sapo.pt até dia 8 de Novembro. Se o desejar,pode ser 1 trabalho de grupo e todos os alunos a escrever 1 só texto,algo muito próprio deles e original,era giro :)

Jocas gordas
Lena