sexta-feira, 18 de junho de 2010

Português, até ao fim - até amanhã, José Saramago


José Saramago partiu, deixou esta vida... se foi para outra? Ele achava que não. Mas será consensual que continua vivo na sua obra.
Deixo aqui uma referência a um artigo do Jornal espanhol "El País" que acho lindo. Os espanhóis tinham por ele um carinho especial e sempre lho demonstraram. Os portugueses tinham com ele uma relação dúbia, por cá foi amado e odiado, mas, digam o que disserem, foi sempre português, mesmo quando se zangou com os governantes do país. ("Esquecer-me de Portugal seria a mesma coisa que esquecer-me do meu próprio sangue"). Reparem como o artigo termina, a um "hasta la mañana" responde com um "até amanhã"...

http://www.elpais.com/articulo/cultura/felicidad/era/isla/Saramago/elpepucul/20100618elpepucul_26/Tes


Até amanhã, José Saramago!

foto in sites.google.com/.../jose-saramago/saramago3.jpg

domingo, 13 de junho de 2010

Até sempre, tio de coração!

Dia 10 de Junho de 2010, dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, dizia eu ao meu afilhado, para lhe explicar porque era feriado, e eis que ele acrescenta na simplicidade e sabedoria dos seus oito anos... " e é o dia em que o meu avô morreu." Verdade, infelizmente, a mais pura das verdades, que fez com que este dia de que sempre gostei (até porque era sinónimo de Feira do Livro, santos populares, cheiro a Verão...) passasse a ser ensombrado pela partida de um tio de coração. Partiu aos 63 anos, vítima de cancro, doença maldita que ceifa vidas sem dó nem piedade.
Num post de Setembro passado, referi-me aos amigos como uma família escolhida por nós e, de facto, este meu tio, não o era de sangue, mas era-me muito mais próximo do que alguns dos meus tios biológicos. Quando nasci, ele e mais alguns tios e tias já faziam parte da minha vida, eram amigos dos meus pais e faziam parte da família que eles já haviam escolhido.
Era uma pessoa alegre, carinhosa, conciliadora, acho que nunca o vi verdadeiramente zangado. É esta a imagem que deixou em mim e na minha vida. Em Setembro passado, quando esta família alargada se reuniu, lá estava ele e o seu sorriso. Mesmo já doente, quando o ia ver ao hospital, recebia-me com um sorriso e o seu terno sotaque alentejano que nunca perdeu, mesmo vivendo há décadas em Lisboa. Nestas visitas, discutíamos o Benfica, provocávamos um outro meu tio de coração que é sportinguista, riamos de anedotas... Chegou a melhorar e a esperança renasceu, mas foi apenas um engano. Partiu no dia de Portugal, cedo demais. Nessa noite, quase tive vontade de fazer como o meu afilhado que, já noite, cansado, correu para a rua à procura da estrela onde o avô está agora (a avó disse-lhe que aquele corpo já não era o avô, o avô agora estava numa estrela ou no fim do arco-íris).
Também eu dou por mim agora a olhar o céu à procura dessa nova estrela da constelação dos meus entes queridos que já partiram.
Onde quer que estejas, tio Caetano, quero dizer-te que guardarei no meu coração e nas minhas memórias a pessoa que foste. Um imenso xi-coração e... até sempre!

sábado, 5 de junho de 2010

Velhos são os trapos!


Esta semana, no âmbito da promoção do voluntariado junto dos jovens, acompanhei uma das minhas turmas, de que sou Directora de Turma, numa acção de voluntariado junto de uma associação de apoio a idosos e foi uma experiência espectacular.
Dizer apenas que numa aula de ginástica conjunta, os de 80 mostraram aos teens e aos de 30 que a energia e a vitalidade não são resultado do físico, mas do espírito. Com diferenças de idades maioritariamente de cerca de 70 anos, os da faixa etária mais elevada levaram a melhor sobre os mais novos!
Foi um dia muito divertido e feliz. Os meus alunos, como peixe na água ,a aprenderem a jogar ao pião, alguns a experimentarem a corrida de sacos pela primeira vez, outros a terem que recorrer à ajuda da experiência para reconhecerem os cheiros das ervas tradicionais... e tantas coisas mais!
No fim do dia... "Stora, vamos embora já? Não podemos ficar mais um bocadinho?" "Stora, podemos fazer isto mais vezes?" "Quando voltamos?"
Valeu a pena! Foi óptimo!
Deixo aqui o texto com que a actividade foi apresentada aos meus alunos, pela técnica da instituição, antes de eles conhecerem os seus novos amigos. Pablo Neruda diz tudo.


"Morre lentamente quem não viaja,
quem não ouve música,
quem não encontra graça em si mesmo.
Morre lentamente quem destrói o seu amor-próprio,
quem não se deixa ajudar.

Morre lentamente quem se transforma em escravo do hábito,
repetindo todos os dias os mesmos trajectos,
quem não muda de marca,
não arrisca vestir uma nova cor ou não conversa com quem não conhece.

Morre lentamente quem faz da televisão o seu guru.

Morre lentamente quem evita uma paixão,
quem prefere o negro sobre o branco e os pontos sobre os “is”
em detrimento de um redemoinho de emoções
justamente as que resgatam o brilho dos olhos,
sorrisos dos bocejos, corações aos tropeções e sentimentos.

Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz com o seu trabalho,
quem não arrisca o certo pelo incerto para ir atrás de um sonho,
quem não permite pelo menos uma vez na vida fugir dos conselhos sensatos.

Morre lentamente, quem abandona um projecto antes de iniciá-lo,
não pergunta sobre um assunto que desconhece
ou não responde quando lhe indagam sobre algo que sabe.

Evitemos a morte em doses suaves,
recordando sempre que estar vivo exige um esforço maior que o simples facto de respirar.

Somente a perseverança fará com que conquistemos um estágio esplêndido de felicidade. "

Pablo Neruda