quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Acontece... Carlos Pinto Coelho partiu

imagem in http://www.e-na.net/19980601Acontece.html

"E assim acontece"... é esta a frase que me ocorre ao saber que Carlos Pinto Coelho partiu. O coração deixou de bater e assim aconteceu. Um grande senhor da televisão portuguesa, um grande senhor da cultura. Era cedo demais, 66 anos, alguns dos quais numa prateleira de esquecimentos a que a ingrata televisão tantas vezes condena valores grandes. Este foi um deles...
De 1993 a 2003 apresentou (e penso que era o autor) o"Acontece", um magnífico programa de televisão que apresentada de forma muito própria (lembro a caricatura que Herman fez dele), agora estava de volta noutros trabalhos na RTP Memória.

In memoriam... acontece... Carlos Pinto Coelho (1944-2010)


sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Portugal... pelas palavras de Ary dos Santos


Nos tempos que correm, este poema / canção é de uma pertinência extrema. Poema do grande José Carlos Ary dos Santos e música igualmente grande Fernando Tordo. Deixo aqui o poema e vejam se não é mesmo este o nosso país, capaz do melhor e do pior... Um país entre a ternura e a amargura...

"Desde quando nasci
Que o conheço e lhe quero
Como a um irmão meu
Como ao pai que perdi,
Como tudo o que espero.

É um homem que tem o condão da doçura
No sorriso de água, nos olhos cansados,
É metade alegria, é metade ternura
Nas palavras cantadas, nos gestos dançados,
Nos silêncios magoados.

Tem um rosto moreno
Que o inverno o marcou
E apesar de ser forte,
É um homem pequeno
Mas maior do que eu sou.

Tem defeitos, é certo. Como todos nós.
Sonha, às vezes demais,
Fala, às vezes no ar
Mas quando dentro dele a alma ganha a voz
É tal como se fosse o som do nosso mar,
Se pudesse falar...

Foi capaz de mentir,
Foi capaz de calar
É capaz de chorar e de rir,
Tem um quê de fadista,
Tem um quê de gaivota,
E a mania que há-de ser artista.
Quando vê que precisa
É capaz de roubar,
Mas também sabe dar a camisa.
Foi capaz de sofrer,
Foi capaz de lutar,
É capaz de ganhar
E perder.

É um amigo meu que às vezes me ofende
Mas que eu sei que me escuta,
Que eu sei que me ouve
E também compreende.
Quantas vezes lhe digo que tenha juízo,
Que a mania dos copos só lhe faz é mal,
Que a preguiça não paga e que o trabalho é preciso.
Ele encolhe-me os ombros num despreso total,
Este tipo é assim, mas...

Foi capaz de mentir,
Foi capaz de calar
É capaz de chorar e de rir,
Tem um quê de fadista,
Tem um quê de gaivota,
E a mania que há-de ser artista.
Quando vê que precisa
É capaz de roubar,
Mas também sabe dar a camisa.
Qual o nome final
Deste amigo que eu canto?
Pois é claro que é
Portugal."


terça-feira, 19 de outubro de 2010

Há dias assim...


Foto

Hoje fui a Lisboa. Como tinha tempo, estacionei e fiz o resto do percurso até ao meu destino a pé.
Nas Avenidas novas, que frequentei bastante na infância e juventude, a dois passos de onde nasci, com 25º C e um sol esplendoroso, senti-me bem, apeteceu-me sorrir... Senti-me feliz!
De forma simples, sem razão aparente, um dia ameno na minha cidade fez-me sentir em paz comigo e com a vida! Por momentos não havia preocupações, nem tristezas, nem OE, nem défice, havia um Portugal feliz!


sexta-feira, 30 de julho de 2010

Talento, coragem, humanidade... e um grannnde sorriso!



António Feio era o Tony da "Conversa da Treta", era um actor ímpar, um humorista, um Homem, assim mesmo com H grande, porque era grande como actor e como pessoa, porque tinha uma imensa humanidade.
Recordo a sua mensagem de promoção do filme "Contraluz" que é afinal uma lição de vida:

"Aproveitem a vida e ajudem-se uns aos outros. (...) Não deixem nada por dizer, nada por fazer"

Até sempre, António Feio, e obrigada! :)

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Dia dos Avós - obrigada!

O dia dos avós nunca foi um dia especial para mim, porque os meus avós estavam ali, ao meu lado. Um beijo, um abraço, um sorriso, uma zanga, uma teima, estava tudo ali à mão, todos os dias da minha vida. Nasci e cresci com os meus avós maternos sempre por perto. A "casa da avó" era um bocadinho a minha casa. Lá sabia que tinha que contar com as regras e feitio especial do meu avô, mas também com o seu inteligente e peculiar sentido de humor e com a ternura e o sorriso da minha avó, uma daquelas avós-mãe, em cujo coração cabe sempre mais um.

Agora que a minha avó partiu e o meu avô é uma sombra do que foi, este dia torna-se mais triste e doloroso, mas, por outro lado, também feliz, pelo que vivemos juntos, eu, os meus avós e o meu irmão. Com eles descobrimos Lisboa, os museus, os monumentos. Não voltei a visitar o Palácio da Ajuda e o Palácio de Queluz, por exemplo, desde que os visitei com os meus avós. A "sopa de Lisboa" (que a minha avó fazia, sem panela de pressão, quando iamos à casa que tantos e tantos anos tiveram alugada na Graça) tinha um paladar único. Os ovos estrelados da minha avó tinham também um sabor especial. As histórias que o meu avô contava da sua juventude que podiam ser repetidas, mas só ele tinha graça a contar. O seu humor às vezes mordaz, mas ímpar. E tantas outras memórias...

Neste dia dos avós, esta é a homenagem que quero fazer aos meus avós. Estou triste, porque não os tenho comigo, mas feliz porque guardo deles memórias valiosas. Eles fazem parte de mim e há muita coisa no que hoje sou que é também obra deles. Muito obrigada, avó e avô!!

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Que seja infinito enquanto dure

Faz hoje 30 anos que partiu Vinicius de Moraes, o "poetinha" como ficou conhecido, ou o branco mais preto do Brasil, como o apresentaram hoje na Antena 1. Um poeta que ficou para sempre associado à música, graças às parcerias que foi fazendo com músicos de renome, como Tom Jobim (quem não se lembra da "Garota de Ipanema"!), Toquinho, Chico Buarque, entre tantos outros.
Terá gozado a vida da melhor maneira que pôde e soube, para o bem e para o (seu) mal.

Foi amado e amou... uma e outra e outra vez... sem desistir. Casou 9 vezes, quem sabe em busca do amor eterno em cada um deles. Foi aliás o poeta do amor, que defendia que a vida era "a arte do encontro".

Sou definitivamente admiradora e apreciadora da obra de Vinicius e até da forma peculiar como viveu e há uma frase que define bem a sua maneira de estar na vida - "que seja infinito enquanto dure" (in "Soneto da Fidelidade").

30 anos após a sua partida, esta é a minha forma de o homenagear pelo amor que deixou em cada uma das suas palavras...

De entre tantos poemas que podia escolher, optei por este...


Soneto da Fidelidade

"De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure."


Vinicius de Moraes


(imagem in http://sambadobrasil.wordpress.com/2008/05/07/vinicius-de-moraes-na-avenida/)


terça-feira, 6 de julho de 2010

Mesmo felizes precisamos dos outros

"E, sobretudo, lembrem-se do coração de cada um de nós, desta força imensa. E não adiem os vossos gestos. Procurar alguém que sofra, que precise de nós, nem sequer é um gesto generoso, deve ser um gesto natural que se não adia.

Às vezes até precisamos uns dos outros para dizermos que estamos felizes, contentes. Só para isso. Mesmo felizes precisamos dos outros."


Matilde Rosa Araújo (1921-2010) - Conto "Fita Vermelha"


sexta-feira, 18 de junho de 2010

Português, até ao fim - até amanhã, José Saramago


José Saramago partiu, deixou esta vida... se foi para outra? Ele achava que não. Mas será consensual que continua vivo na sua obra.
Deixo aqui uma referência a um artigo do Jornal espanhol "El País" que acho lindo. Os espanhóis tinham por ele um carinho especial e sempre lho demonstraram. Os portugueses tinham com ele uma relação dúbia, por cá foi amado e odiado, mas, digam o que disserem, foi sempre português, mesmo quando se zangou com os governantes do país. ("Esquecer-me de Portugal seria a mesma coisa que esquecer-me do meu próprio sangue"). Reparem como o artigo termina, a um "hasta la mañana" responde com um "até amanhã"...

http://www.elpais.com/articulo/cultura/felicidad/era/isla/Saramago/elpepucul/20100618elpepucul_26/Tes


Até amanhã, José Saramago!

foto in sites.google.com/.../jose-saramago/saramago3.jpg

domingo, 13 de junho de 2010

Até sempre, tio de coração!

Dia 10 de Junho de 2010, dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, dizia eu ao meu afilhado, para lhe explicar porque era feriado, e eis que ele acrescenta na simplicidade e sabedoria dos seus oito anos... " e é o dia em que o meu avô morreu." Verdade, infelizmente, a mais pura das verdades, que fez com que este dia de que sempre gostei (até porque era sinónimo de Feira do Livro, santos populares, cheiro a Verão...) passasse a ser ensombrado pela partida de um tio de coração. Partiu aos 63 anos, vítima de cancro, doença maldita que ceifa vidas sem dó nem piedade.
Num post de Setembro passado, referi-me aos amigos como uma família escolhida por nós e, de facto, este meu tio, não o era de sangue, mas era-me muito mais próximo do que alguns dos meus tios biológicos. Quando nasci, ele e mais alguns tios e tias já faziam parte da minha vida, eram amigos dos meus pais e faziam parte da família que eles já haviam escolhido.
Era uma pessoa alegre, carinhosa, conciliadora, acho que nunca o vi verdadeiramente zangado. É esta a imagem que deixou em mim e na minha vida. Em Setembro passado, quando esta família alargada se reuniu, lá estava ele e o seu sorriso. Mesmo já doente, quando o ia ver ao hospital, recebia-me com um sorriso e o seu terno sotaque alentejano que nunca perdeu, mesmo vivendo há décadas em Lisboa. Nestas visitas, discutíamos o Benfica, provocávamos um outro meu tio de coração que é sportinguista, riamos de anedotas... Chegou a melhorar e a esperança renasceu, mas foi apenas um engano. Partiu no dia de Portugal, cedo demais. Nessa noite, quase tive vontade de fazer como o meu afilhado que, já noite, cansado, correu para a rua à procura da estrela onde o avô está agora (a avó disse-lhe que aquele corpo já não era o avô, o avô agora estava numa estrela ou no fim do arco-íris).
Também eu dou por mim agora a olhar o céu à procura dessa nova estrela da constelação dos meus entes queridos que já partiram.
Onde quer que estejas, tio Caetano, quero dizer-te que guardarei no meu coração e nas minhas memórias a pessoa que foste. Um imenso xi-coração e... até sempre!

sábado, 5 de junho de 2010

Velhos são os trapos!


Esta semana, no âmbito da promoção do voluntariado junto dos jovens, acompanhei uma das minhas turmas, de que sou Directora de Turma, numa acção de voluntariado junto de uma associação de apoio a idosos e foi uma experiência espectacular.
Dizer apenas que numa aula de ginástica conjunta, os de 80 mostraram aos teens e aos de 30 que a energia e a vitalidade não são resultado do físico, mas do espírito. Com diferenças de idades maioritariamente de cerca de 70 anos, os da faixa etária mais elevada levaram a melhor sobre os mais novos!
Foi um dia muito divertido e feliz. Os meus alunos, como peixe na água ,a aprenderem a jogar ao pião, alguns a experimentarem a corrida de sacos pela primeira vez, outros a terem que recorrer à ajuda da experiência para reconhecerem os cheiros das ervas tradicionais... e tantas coisas mais!
No fim do dia... "Stora, vamos embora já? Não podemos ficar mais um bocadinho?" "Stora, podemos fazer isto mais vezes?" "Quando voltamos?"
Valeu a pena! Foi óptimo!
Deixo aqui o texto com que a actividade foi apresentada aos meus alunos, pela técnica da instituição, antes de eles conhecerem os seus novos amigos. Pablo Neruda diz tudo.


"Morre lentamente quem não viaja,
quem não ouve música,
quem não encontra graça em si mesmo.
Morre lentamente quem destrói o seu amor-próprio,
quem não se deixa ajudar.

Morre lentamente quem se transforma em escravo do hábito,
repetindo todos os dias os mesmos trajectos,
quem não muda de marca,
não arrisca vestir uma nova cor ou não conversa com quem não conhece.

Morre lentamente quem faz da televisão o seu guru.

Morre lentamente quem evita uma paixão,
quem prefere o negro sobre o branco e os pontos sobre os “is”
em detrimento de um redemoinho de emoções
justamente as que resgatam o brilho dos olhos,
sorrisos dos bocejos, corações aos tropeções e sentimentos.

Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz com o seu trabalho,
quem não arrisca o certo pelo incerto para ir atrás de um sonho,
quem não permite pelo menos uma vez na vida fugir dos conselhos sensatos.

Morre lentamente, quem abandona um projecto antes de iniciá-lo,
não pergunta sobre um assunto que desconhece
ou não responde quando lhe indagam sobre algo que sabe.

Evitemos a morte em doses suaves,
recordando sempre que estar vivo exige um esforço maior que o simples facto de respirar.

Somente a perseverança fará com que conquistemos um estágio esplêndido de felicidade. "

Pablo Neruda

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Amélia dos Olhos Doces

Poema magistral de Joaquim Pessoa. Faz parte das minhas memórias na voz de Carlos Mendes.


"Amélia dos Olhos Doces
quem é que te trouxe
grávida de esperança?
Um gosto de flor na boca.
Na pele e na roupa
perfumes de França.

Cabelos cor de viúva.
Cabelos de chuva.
Sapatos de tiras

e pões, quantas vezes
não queres e não amas
os homens que dormem
contigo na cama.

Amélia dos Olhos Doces
quem dera que fosses
apenas mulher.
Amélia dos Olhos Doces
se ao menos tivesses
direito a viver!

Amélia gaivota
amante ou poeta.
Rosa de café.
Amélia gaiata
do Bairro da Lata.
Do Cais do Sodré.

Tens um nome de navio.
Teu corpo é um rio
onde a sede corre.
Olhos Doces. Quem diria
que o amor nascia
onde Amélia morre?

Cabelos cor de viúva.
Cabelos de chuva.
Sapatos de tiras
e pões, quantas vezes
não queres e não amas
os homens que dormem
contigo na cama."

Joaquim Pessoa

sexta-feira, 7 de maio de 2010

As palavras...

Fonte de grande entendimentos, mas também de grandes desentendimentos, as palavras carregam emoções. Seja em que língua for, podem fazer-nos muito bem ou muito mal. Há quem chame sinceridade à capacidade de atirar à cara dos outros tudo o que se pensa - não concordo, isso é correr o risco de se magoar as pessoas por não se pensar.
Eu vejo as palavras como frutos que precisam de amadurecer para serem colhidos. Na minha profissão mais ainda, porque o que eu disser irreflectidamente pode ficar para sempre como boa ou má memória para os meus alunos. Eu lembro-me claramente de algumas frases (umas de forma positiva outras de forma negativa) ditas por professores meus. Mas não só. Lembro-me de momentos em que pessoas que eu amo me disseram coisas que me magoaram e não consigo esquecer.
As palavras são, afinal, uma forma de acarinhar ou de magoar, depois de passarem pelo filtro do coração... e do cérebro. Como dizia Eugénio de Andrade...

As palavras

São como um cristal,
as palavras.
Algumas, um punhal,
um incêndio.
Outras,
orvalho apenas.

Secretas vêm, cheias de memória.
Inseguras navegam:
barcos ou beijos,
as águas estremecem.

Desamparadas, inocentes,
leves.
Tecidas são de luz
e são a noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.

Quem as escuta? Quem
as recolhe, assim,
cruéis, desfeitas,
nas suas conchas puras?

Eugénio de Andrade


Hoje voltei a sentir como muito verdadeiros estes versos...

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Vitória...

Vitória era a minha avó. Se fosse viva, hoje teria feito 84 anos. Partiu há quase 3 anos e parece que ainda foi ontem... Continuo e continuarei sempre a lembrar-me dela com o seu sotaque de "bês" e um sorriso terno no rosto. Era uma mulher de fibra, forte como o seu nome, mas de coração doce, sem rancores, e com uma imensa capacidade de amar. Tenho saudades dela, sinto imensa falta de lhe telefonar - eu a dizer "Olá, bózinha!" e ela a responder "Olá, neta!" (acreditem que ainda consigo ouvir a sua voz...). Já não viveu algumas coisas que teria adorado viver, mas... a vida é assim e nem sempre é justa.
À minha querida avó Vitória deixo... flores, a melhor prenda que lhe podiamos dar...
Onde quer que estejas, avó, parabéns! Sei que estás a sorrir e agradeço-te ainda por me teres ensinado tanta coisa! Afinal, aquilo que sou hoje devo-o muito a ti! Beijo grande e um imenso xi-coração! Espero um dia ter a tua capacidade de amar!

domingo, 2 de maio de 2010

Neste dia da Mãe...

A todas as mães que o são de coração dedico este poema de José Luís Peixoto, com um beijo doce.



Palavras para a Minha Mãe


mãe, tenho pena. esperei sempre que entendesses
as palavras que nunca disse e os gestos que nunca fiz.
sei hoje que apenas esperei, mãe, e esperar não é suficiente.

pelas palavras que nunca disse, pelos gestos que me pediste
tanto e eu nunca fui capaz de fazer, quero pedir-te
desculpa, mãe, e sei que pedir desculpa não é suficiente.

às vezes, quero dizer-te tantas coisas que não consigo,
a fotografia em que estou ao teu colo é a fotografia
mais bonita que tenho, gosto de quando estás feliz.

lê isto: mãe, amo-te.

eu sei e tu sabes que poderei sempre fingir que não
escrevi estas palavras, sim, mãe, hei-de fingir que
não escrevi estas palavras, e tu hás-de fingir que não
as leste, somos assim, mãe, mas eu sei e tu sabes.

José Luís Peixoto, in "A Casa, a Escuridão"

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Texas - "the lone star state"

Quem ler estes posts poderá achar que me estou a render aos encantos ianques, mas a verdade é que, se algumas das minhas expectativas se confirmaram, outras há que saíram completamente contrárias e a maior surpresa foi mesmo o Texas. Eu que julgava que era como nos filmes de cowboys, fiquei completamente de boca aberta quando vi tanto verde e tanto civismo (é verdade que só conheci Austin, talvez a melhor parte do Texas como me disse um americano no avião de regresso a Lisboa). Ah, mas devo dizer que, quando lá cheguei, pensei que não sabia falar inglês, porque tinha uma imensa dificuldade em perceber o que diziam já que "comem" as palavras.
Enquanto lá estive, investiguei um pouco mais sobre este lendário 28º estado dos USA, um estado que esteve sob o domínio espanhol e depois mexicano, acabando integrado nesta potência de 50 estados. Este estado, que vai buscar o seu nome à palavra índia "tejas", que signifca "amigo", tem Austin como capital desde 1845 (depois de uma disputa com Houston), tendo 268.581 milhas quadradas, sendo tão grande como 10 outros estados dos EUA juntos (a saber: Maine, New Hampshire, Vermont, Massachussets, Connecticut, Rhode Island, New York, Pennsylvania, Ohio e North Carolina). Em 2006, tinha 23.507.783 residentes e cerca de 85% da sua população vivia em cidades. Entre muitas outras curiosidades, que me levariam a escrever um post interminável (sobretudo porque gosto muito destas coisas), no Texas há montanhas, planícies, costa marítima, pradarias, florestas, pântanos e paisagens vulcânicas, dividindo-se nas seguintes regiões "turísticas" (chamemos-lhe assim) - Hill Country, Panhandle Plains, Big Bend Country, Gulf Coast, Piney Woods, Prairies and Lakes e South Texas Plains (não traduzo, porque acho que perderia o sentido).


É conhecido pelo "lone star state", sendo possível encontrar esta sua imagem de marca por todo o lado...


A bandeira do Texas está por todo o lado, bem como a dos EUA...


Mais algumas curiosidades são o facto do Texas ter como lema a amizade, o seu maior mamífero ser o "longhorn" (que é também símbolo da Universidade do Texas), o desporto mais característico ser o rodeo e prato típico o chili.

Austin, no Hill Country, serviu-me de cartão de visita. Lá há um magnífico Capitólio, onde está o retrato do dito cujo que foi governador do Estado e, depois, para mal dos nossos pecados Presidente dos EUA...




Tem também a sede da magnífica Universidade do Texas...




Austin tem também muita gente simpática ("Howdy"), cruzamos olhares com alguém na rua e sorriem-nos, no supermercado os operadores de caixa perguntam-nos como nos correu o dia, as paisagens são magníficas, não há rotundas, mas cruzamentos onde todos param e passam à sua vez, sem confusão, os peões passam tranquila e com confiança nas passadeiras. É até uma cidade um pouco provinciana (mas à escala americana, não portuguesa), porque imagino que em Nova Iorque, Dallas, Los Angeles, não seja bem assim.

Se me perguntarem...
... do que gostei mais - da simpatia e civismo dos habitantes de Austin e do verde, o imenso verde, que se completa com o rio Colorado.



... do que gostei menos - a comida, óptima à partida, mas estragada pelos molhos que fartam instantaneamente, o café (terrível!) e aquela estranha sensação de que naquele país é crime beber bebidas alcoólicas (nas ruas há avisos de que é proibido beber álcool na via pública), mas é permitido andar armado.



Muito, mas muito mais haveria a dizer sobre o Texas e Austin, mas, por agora fico-me por aqui. Voltarei para escrever sobre a frase que mais me ocorreu nesta viagem - "isto é como nos filmes!". Mas terá que ficar para outro dia, porque os meus dedos já reclamam no teclado e os meus olhos ameaçam fechar-se sem cerimónias.

Para terminar, deixo uma frase que descobri num guia para turistas que me parece ilustrar o que é o Texas: "The Lone Star State gets much of its uniqueness from its beautiful mix of people. Indeed it is great blend of cultures that give Texas its lively personality. You can hear it in the music, taste it in the food, sample it at the festivals and see it in the architecture - Texans are a colorful bunch."



quinta-feira, 8 de abril de 2010

Howdy! From Austin, Texas, to the world!



A vida tem destas coisas, se me dissessem há um ano atrás que em Abril de 2010 estaria a passar uns dias em Austin, Texas, EUA, eu diria que seria muito improvável. Pois, mas é onde estou neste momento. A vida dá muitas voltas e um familiar meu, por razões profissionais, veio viver para Austin por tempo indeterminado e cá estou eu a visitá-lo.
Para começar, os EUA são um país que nunca me atraiu particularmente, embora haja uma cidade que cada vez exerce mais fascínio sobre mim - Nova Iorque. Para chegar aqui à capital do Texas, fiz escala em Newark e o Liberty Airport está repleto de souvenirs Nova Iorquinos pelo que fiquei com mais água na boca. Mas por agora terá que continuar a ser um sonho. Assim, embarquei rumo a Austin (depois das cerca de 7.30h de vôo de Lisboa e Newark, foram mais cerca de 4h de vôo para Austin) e cá estou eu a descobrir a capital do Texas.
Nos próximos dias, conto relatar um pouco desta minha experiência turística por estas paragens, mas por hoje digo-vos apenas que Austin é uma cidade bastante verde, atravessada pelo Rio Colorado, bem quentinha nesta época do ano, com um clima que lembra muito o tropical, em que se ouve falar espanhol a cada passo, mas onde os americanos por enquanto para mim falam "estrangeiro" - ou seja, falam muito depressa, comem palavras e usam um vocabulário que não me é muito familiar. Impressão geral: é uma cidade simpática, mas tenho que a conhecer um pouco melhor.
See you tomorrow!

terça-feira, 30 de março de 2010

Ainda a Escola...


Ao ver o Prós e Contras de hoje sobre "Quem manda na Escola?", ocorre-me que há responsabilidade em todas as partes (professores, alunos, pais, psicólogos, políticos...sociedade). A escola é uma incubadora da sociedade e o problema é mesmo esse, a sociedade está doente.


Embora haja dias em que é muito difícil "viver" numa escola, é essa ainda a minha segunda casa, ser professora é ainda a minha vocação. Nas escolas há também alunos que pensam e têm opinião sobre as coisas - concorde-se ou não com as suas ideias, Pedro Feijó, da Associação de Estudantes da Escola Secundária de Camões, é um exemplo, um bom exemplo disso mesmo.

Numa das minhas Direcções de Turma deste ano, um aluno portou-se mal, mesmo mal, e como consequência teve um dia de suspensão e um projecto de trabalho comunitário: no dia de suspensão, foi a uma instituição de idosos, acompanhado de uma professora, conhecer a instituição e delinear com os responsáveis as tarefas a desenvolver nos 4 dias de férias da Páscoa que cumprirá nessa instituição. Hoje foi o primeiro dia e correu lindamente... A Escola é também isto - os actos têm consequências, punitivas, mas também de cidadania.